Outra opção genial pra depois falarmos de quem somos, hoje em dia. Um irmão bem sucedido que ao saber que não terá poder sobre a vida, decreta que deverá saber e participar e com qual participação na morte do irmão.
Incrível como existem pessoas que apenas fazem tudo e decidem como querem que a vida transcorra, até mesmo quando a configuração é de que a vida vai acabar. E particularmente no filme, com aquele caos normatizado que está ao redor das nossas vidas – de novo o cinema italiano desenhando a enormidade e multiplicidade de atividades multiformes em que nossa vida urbana se transformou. Reuniões, bebidas, cigarros, cantadas, amores, almoços, mostra a luz nova da cozinha, acende, apaga, acende, apaga e chora e finge e mente – incrível.
Ao final, o abraço. Estamos correndo para longe do que vale realmente à pena e nos ressentimos de tudo o que estamos fazendo. Nesse “não há tempo”, a percepção clara de que “precisamos arrumar tempo”, que o nosso bem mais precioso será o tempo de estar com quem amamos. Com perdas, loucuras, rotinas estressantes, mas vivos. Com olhos postos de frente de quem importa.
Vale demais à pena assistir e depois pensar um pouco nos erros que vemos e nem avaliamos; principalmente se forem nossos.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Irmãos. Família. Doença. Amor. Vida. Todas as vidas são perfeitas enquanto tudo é festa e sucesso. Todos nós somos convidados a Ser verdadeiramente quando a realidade da vida se apresenta. Quando as grandes dores, grandes dúvidas, medos, decisões, estão presentes. Sem saída, sem fuga. E aí percebemos o quanto brincamos, o quanto desperdiçamos, o quanto perdemos. E ao mesmo tempo, nesse instante, percebemos como é divino poder ainda falar e fazer o que nunca tivemos coragem, o que pensamos que nunca seria necessário dizer e fazer, para sermos realmente quem somos e quem verdadeiramente somos capazes de ser.
Um irmão que vive uma vida simples e na casa e terra onde nasceu, fica doente. O irmão de sucesso e luxúria que vive em Roma num apartamento moderno, sofisticado, grandes carros, motorista, bons restaurantes, festas, acolhe o irmão tentando solucionar o problema do jeito que sempre solucionou tudo na sua vida. Com omissão, inteligência, e dinheiro. Só que nem tudo na vida tem solução e nem tudo na vida que tem solução, se resolve com inteligência e dinheiro. Muito menos omitindo.
O vazio interior do irmão de sucesso é perturbador. Representa totalmente quem vive nas grandes cidades, com conforto, luxo e consumismo. Tem tudo, mas não tem nada. E não quer sofrer, perder. Tem coisas, pessoas, mas não se completa, não se satisfaz. Não vive inteiramente. Até que, de uma maneira muito sutil e bela o irmão doente o desperta para o que realmente importa.
O filme termina com uma cena muito bonita, talvez a cena mais bonita do filme. Algo que sempre me encantou: estorninhos em bando. Quem nunca viu essa grandiosa beleza, pesquise na internet. Os estorninhos andam em bandos numerosos por que se sentem mais seguros e executam estas danças mágicas como mecanismos de defesa contra possíveis predadores. Uma mensagem muito especial no final.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt7779590/
8 ½ Festa do Cinema Italiano
http://www.festadocinemaitaliano.com.br/filme/108
Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha