Mais um filme dirigido e estrelado por Clint Eastwood. E eu gosto dessa coisa meio fora de padrão que ele sempre aponta. Ele não quer ser nem mocinho, nem bandido – então é os dois. Aponta repetidas vezes para um “desmolde” social onde basta você se desviar um pouquinho para se desviar de montão, numa sociedade onde políticos podem fazer, falar e ofender à vontade.
Um “free spirit” como ele – espírito livre – veria como crime ganhar rios de dinheiro só para carregar uma mala no carro, dirigindo e cantando pelo país? Honestamente? Não. Existe muita gente como ele no mundo? Honestamente? Sim. Vendo tudo o que qualquer pessoa que tenha poder faz e que a gente só consegue ver pela TV... é como se vingar pelo que nunca fomos, nem seremos.
Alguém controla um espirito livre? Não. A beleza dos filmes que Clint Eastwood dirige é exatamente essa. Espíritos livres são assim – livres – não importa o que aconteça.
O enredo te envolve porque a quantidade de “mulas” presas pelas polícias do mundo demonstra que há candidatos permanentemente para a vaga e que muita gente arrisca e se arrisca pela fantasia de que pode dar certo.
Não é pra Oscar, mas bate naquela sua revolta abandonada no subconsciente desde sempre... Não é para Globo de Ouro, mas nem tudo é premiação na vida. É uma ficção, mas aponta imprudentemente para realidades que socialmente evitamos olhar. Quem for ver, verá.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Clint Eastwood. Um ser humano à parte. Ator, diretor, compositor, etc, etc, etc. Tudo o que fez e faz, sempre tem excelente qualidade. Sempre especial. Sempre importantes escolhas de temas de filmes. O corpo já lhe dá limites, mas ele permanece jovem e cheio de sonhos. Filme obrigatório pelo tema, por ter este ator extraordinário e por que se percebe que o seu corpo está se despedindo. Não fará muitos mais filmes. Quem nunca viu filmes deste senhor, veja. O mundo não será mais o mesmo depois disso.
O filme. Uma história incrível. Ai vida, vida. Por vezes levamos uma vida tão certa e tudo dá errado. E uma coisa errada, faz você voltar para o caminho certo. Mas sei lá eu o que é certo ou errado na vida. Por que com todos nós sucede, mais tarde ou mais cedo, algum momento em que algo errado é o certo daquele momento. E o sucesso, seja no certo ou errado, necessita de competência, de capacidade, de cumprir com o prometido ou o determinado. Pois é. Por isso muitas vezes se lembra que a felicidade também dá trabalho, não cai do céu. Você fica torcendo pelos “maus” neste filme. Louco.
Aborda também as questões familiares na nossa vida. Estar perto da família, cuidar, fazer parte. Se isso não te faz feliz, você fica ou você se afasta? Uma ou outra decisão, terão mais na frente momentos em que os verdadeiros sentimentos decidirão. Quando a vida apertar e se mostrar na sua plena crueza. Aí você verá os que te amam e os que somam na tua vida. Nenhum de nós é só bom e nenhum de nós é só mau.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt7959026/
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